segunda-feira, 29 de maio de 2023

Cannes 2023 e os filmes da Justine Triet

 O filme "Anatomie d'une chute" da Justine Triet venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2023.

Enquanto o filme não chega dei uma checada nos seus 2 filmes anteriores para uma espécie de aquecimento.

Sibyl de 2019 é um triângulo de envolvimentos entre uma psicoterapeuta, uma paciente e a diretora de um filme. Aqui a terapeuta é a atriz Virginie Efira e a paciente é a linda Adèle Exarchopoulos. Nesse filme já temos a presença da alemã Sandra Hüller (no papel da diretora) que será a grande estrela do filme de 2023. Um filme com cortes rápidos e filmado como se fosse um estudo de personagens.

No filme "Na cama com Victória" de 2016 reviravoltas de uma advogada prostituta que resolve defender o caso de um amigo e se envolve com um ex traficante. Aqui um filme de tribunal que será a temática do tão aguardado Anatomie d'une chute. Aqui e em Sibyl a diretora se prepara para uma estética que fez sucesso no Festival e acho válido uma conferida nesses dois filmes. A expectativa agora será o filme vencedor de Cannes.



domingo, 8 de maio de 2022

As mães e alguns filmes sobre elas

 Toda vez que passamos por um "Dia das Mães" penso em alguns filmes que refletem sobre essa pessoa que muitas vezes passa por caminhos tortuosos na relação com os filhos. Temos mães adotivas e mães que não conseguem criar seus filhos como no filme "True Mothers da diretora japonesa Naomi Kawase. O filme concorreu ao Oscar pelo Japão em 2021 e usa um melodrama com saltos temporais para refletir sobre maternidade e adoção. Acho o filme bem alinhado com seus outros filmes no quesito cotidiano e vida na sociedade japonesa. Aqui ela flerta com o cinema de Kore Eda e mostra sua versatilidade para contar histórias. Não acho um filme menor na carreira da diretora como muitas críticas sugerem. O filme é visualmente novelesco mas forte na narrativa e roteiro adaptado de Mizuki Tsujimura. Temos mães que perdem seus filhos que lutam por liberdade e igualdade social e não são compreendidos pelo sistema político de uma sociedade. Um ótimo exemplo é o filme "Our Mothers" do diretor Cesar Diaz. É impressionante como o novato diretor Cesar Diaz consegue tocar na memória recente da história da Guatemala. Diaz mostra com delicadeza os dramas de um povo que sofreu nas mãos de gananciosos militares e lutou para mudar as coisas. Por conta disso as pessoas foram estupradas, torturadas e mortas. São veias que ainda estão abertas na América Latina e o filme remonta as lembranças de um período histórico através de uma mãe e um filho arqueólogo. Ao mesmo tempo ficamos sabendo do sofrimento de várias mães indígenas que lutam por dignidade e uma explicação sobre o paradeiro de seus entes queridos. O filme "Madres Paralelas" do Almodóvar também é um ótimo exemplo. O filme amplifica todos os ícones da Espanha. O Jamón, os quadros de Julio Romero de Torres e o papel da mãe. Este último tópico é o mais importante e desde os primeiros filmes do diretor a mãe sempre está lá. Sempre presente e segurando a onda da família. Se a mãe não aparece como personagem principal ela pelo menos recebe uma visitinha dos filhos em seu "pueblo". Este é Almodóvar. Neste filme ele consegue nos mostrar de uma vez por todas porque elas muitas vezes estão sozinhas. O diretor relembra um passado distante em que os espanhóis conviviam com a Guerra Civil Espanhola e os maridos desapareciam e eram mortos. Almodóvar discute a "Lei de memória histórica" e consegue entrelaçar essas rusgas do passado com reivindicações sociais modernas. Neste caldeirão ele ainda coloca discussões sobre a liberdade sexual, feminismo, construção da família moderna e transexuais. O filme "Prayers for the Stolen" da Tatiana Huezo é um exemplo do sofrimento das mães no Mexico e o medo das milícias. O filme é o indicado do México ao Oscar 2022. Mostra a realidade de uma vila no interior do México na ótica de adolescentes e a recorrente instabilidade em sua segurança. A disputa entre a polícia e outras facções de poder é o pano de fundo dessa história super bem filmada e com atuações fortes. O drama das filhas desse vilarejo tece toda a narrativa. Tudo isso entrelaçado com a situação política de milícias querendo dominar a situação com mortes e sequestros. O filme "Petite Maman" de 2021 é um filme conceitual e filosófico. Céline Sciamma conta uma história de relações entre gerações de uma maneira complexa, poética e extremamente eficaz. Uma menina de 8 anos perde sua avó e passa a conviver com uma garotinha que seria a sua mãe em forma de criança. Os diálogos filosóficos e o roteiro faz desse filme um dos melhores da diretora. Filmado de uma maneira Bergmaniana nos enquadramentos e iluminação. Um relato sobre a infância, a vida adulta e a relação das crianças com entes queridos. Petite Maman foi sucesso no festival de Berlin em 2021 e coloca Sciamma entre as principais diretoras francesas da atualidade. O filme "After Love" de 2020 é o primeiro filme de Aleem Khan e recebeu 3 indicações ao BAFTA 2022. Mostra o papel da esposa que tem um marido com uma amante. Esta amante cria um filho sem saber que seu amante tem uma esposa. Tem uma ótima interpretação da atriz Joanna Scanlan. Ela descobre que seu marido tem outra família e resolve ir encontra-los na França. Trama e drama super sutil e bem contada com ótimas interpretações. Um filme para prestar atenção. Trabalho impecável de direção. Concorre ao melhor filme inglês. Tem a excelente atriz Nathalie Richard fazendo o papel da mulher francesa. O filme "Happening" é um grande filme. Segundo filme da diretora Audrey Diwan já venceu Veneza em 2021. O filme é uma musculosa adaptação do romance "L'événement" de Annie Ernaux. A temática é sobre uma estudante dos anos 60 que deseja realizar um aborto. O filme mostra todas as dificuldades éticas, médicas e jurídicas sobre o assunto nos quentes e políticos anos 60. Um casting invejável que conta com a experiente atriz francesa Sandrine Bonnaire dando fôlego e tensão para a saga da futura e brilhante estudante de literatura Anne (Anamaria Vartolomei). Um filme importante para a discussão atual e visualmente excelente. Ótimos enquadramentos e takes claustrofóbicos dando a total sensação de desconforto sentida pela atriz principal. Acho que com este filme Diwan pode ganhar força e se tornar uma diretora promissora. Outro filme sobre aborto é o filme "Lingui". O dirertor Mahamat-Saleh Haroun do Chade já tinha tido um certo buzz com seus filmes "GriGris" de 2013 e "The Screaming Man" (2010). Aqui ele leva seu filme para os indicados ao Oscar 2022 pelo Chade e arrasa na história de um aborto no país (Chade) de tradições muçulmanas. Toda narrativa se passa como discussão de valores éticos e tradicionais da religião muçulmana. O tema do papel da mulher, estupro e sociedade machista também são encontrados. Visualmente o filme é bem interessante com luzes corretas e muita qualidade nos enquadramentos. O filme "The Restless" de 2021 mostra o papel de uma mãe com um marido que tem problemas psicológicos. Bem filmado drama sobre uma familia que tem no marido uma "persona" com transtornos. O filme capta a luta da esposa para cuidar do filho e deixar a família de pé. Interpretações robustas e clima tenso se desenrolam ao longo do filme. Um bom trabalho do diretor Joachim Lafosse. O filme "Las Sonambulas" da Paula Hernandez também mostra a mãe e sua família.

                                                                                          


para mais detalhes e dicas

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Wim Wenders

 



Wim Wenders no dia 23/10/2010 participou da 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 
  A convite de Leon Cakoff apresentou o projeto "Filmes de minha vida". Falando para um público seleto de mais ou menos 60 pessoas por quase 2 horas, este sorridente diretor de cinema brindou o público com conversas francas sobre cinema, música e experiências de vida. Começou contando que seu primeiro filme foi visto ainda criança quando ganhou de seu pai um projetor de 9,5 mm e nele viu curtas diversos de 1 ou 2 minutos. De sua infância até seus tempos em Paris, onde queria virar pintor, Wenders contou que passava muito tempo na Cinemateca de Paris e às vezes chegava a ver 4 ou 5 filmes por dia. Referências cinematográficas rolaram solto e posso citar algumas: 
# Man of the West (58) - Anthony Mann
 # Wavelenght (67) - Michael Snow
# Easy rider (69) - Dennis Hopper
# Blow Up (66) - Michelangelo Antonioni
 # Tokyo Story (53) - Yasujirô Ozu
 # Salt of the Earth (54) - Herbert J. Biberman
# Only Angels have wings (39) - Howard Hawks
# The girl can´t help it (56) - Frank Tashlin
( Segundo Wenders os Beatles decidiram montar uma banda depois que assistiram a esse filme).
 # The Wild Child (70) - François Truffaut
# O sétimo selo (57) - Ingmar Bergman 
Wenders ainda falou sobre sua amizade e admiração por Jim Jarmusch e Samuel Fuller. Wim Wenders contou sobre vários momentos que passou com seu colega Rainer Werner Fassbinder . Nicholas Ray e Yasujirô Ozu (este considerado mágico por Wim Wenders) também marcaram sua vida. No final tive uma rápida conversa com Wim Wenders e pudemos falar um pouco sobre música e blues. Wenders adora blues. Wim Wenders é sem dúvida um dos maiores diretores de cinema vivos na atualidade e seus filmes merecem destaque na história do cinema.


sábado, 15 de maio de 2021

Robby Müller - As imagens dos meus filmes

 A fotografia é um dos elementos que acho muito importante para o cinema A direção de fotografia faz com que os filmes se apresentem para nosso olhar. São os enquadramentos, iluminação, paletas de cor, sombras, nuances com brilho e saturações. Tudo isso pode implicar na construção da narrativa e as vezes falar por si só. Filmes que não tem um cuidado visual geralmente não são filmes que marcam minha experiência cinematográfica em sua plenitude. Um dos primeiros diretores de fotografia que me marcaram foi o holandês Robby Müller. Robby foi o fotógrafo dos principais filmes de Wim Wenders e Jim Jarmush. Também trabalhou com Lars Von Trier, John Schlesinger, Barbet Schroeder, Bogdanovich e William Friedkin. Robby tinha um senso de enquadramento e iluminação único. Filmava as paisagens e cenas externas usando iluminação natural e dominava as lentes de uma maneira inovadora. Certamente influenciou uma geração de fotógrafos. Dos muitos filmes que Robby fotografou destaco "Paris Texas" - 1984, "Daunbailó" -1986, "Alice nas cidades" - 1974, "Kings of the Road" - 1976 e "O medo do goleiro diante do penalti" - 1972. Robby Müller foi um dos criadores do road movie europeu principalmente em seus trabalhos com WimWenders. Em 2018 foi lançado o ótimo documentário "Robbie Müller- Living the Light" da diretora Claire Pijman. O documentário conta com depoimentos de diretores e cenas raras de Robbie trabalhando em diversos filmes. 




domingo, 2 de maio de 2021

Hong Sang Soo - um diretor da Coréia do Sul

 Atualmente o diretor de cinema Hong Sang Soo está sendo muito comentado e badalado em festivais de cinema ao redor do mundo. Sang Soo já conta com 23 filmes na carreira e vem filmando desde 1996. Ele apresenta um estilo muito peculiar de fazer filmes e particularmente o acho o cineasta mais interessante da Coréia hoje em dia. Os outros diretores coreanos também são muito importantes, mas Sang Soo encabeça um estilo de filmes muito inovador e  pessoal. O estilo é técnicamente muito avançado e estilísticamente sublime. É como se Sang Soo estabelecesse sua própria gramática fílmica com cenas realistas ao extremo e interpretações de certa maneira até um pouco Cassavetianas. Èric Rohmer é uma das suas maiores influências e muitos até chegam a chamá-lo de Woody Allen coreano. Sang Soo geralmente filma nas ruas residenciais de bairros de Seul. Ele filma os personagens caminhando pela cidade e usa muito o interior de cafés para os diálogos com os atores. Ele usa uma técnica de fragmentos e subverte a ordem cronológica dos acontecimentos. O roteiro é elíptico e geralmente num diálogo, Sang Soo mantêm os quadros parados. Usa o "zoom" para início e fim de diálogos e quando há uma briga ele usa uma câmera focalizando em um personagem específico. Os planos dos diálogos são longos e a troca de cenas é extremamente ágil. Sang Soo é um diretor que consegue nos deixar interessados nos diálogos e sua habilidade em filmar o óbvio é extremamente interessante. Ele geralmente usa os mesmos atores em seus filmes e mantém um romance com a atriz de seus filmes Kim Min Hee. São destaques em sua filmografia os filmes "Na praia à noite sozinha" de 2017, "Certo Agora errado Antes" de 2015 e "Tke Day He Arrives" de 2011. Assisti a todos os seus filmes e posso contar que todos são ótimos. Alguns filmes podem ser vistos no Netmovies, Belas Artes e Looke.




quarta-feira, 28 de abril de 2021

Jonás Trueba - um diretor que filma Madrid

 Jonás Trueba é um diretor espanhol e filho de Fernando Trueba. Seus filmes são diferentes das películas do pai pois apresentam um estilo livre e artesanal de filmar. Jonás usa uma estrutura narrativa muito particular, acrescenta referências literárias e capta imagens da cidade (Madrid) na sua mise-en-scène. Fortemente influenciado por Éric Rohmer  e de certa forma por Woody Allen. A temática de seus filmes sempre envolve o cotidiano de casais, planejamentos para o futuro e desilusões amorosas. A fotografia sempre poética cria resultados e nuances leves e belas para os filmes. Seu primeiro filme "Todas las canciones hablan de mi" - 2010 ja mostra essas características visuais. Destaco também os ótimos "La Reconquista" - 2016 (Netflix) e sua obra prima "La VIrgen de Agosto" - 2019. "La Virgen de Agosto" tem uma profunda semelhança e influência do filme "O Raio Verde" de Rohmer. Trueba trabalha geralmente com os mesmos atores com destaque para Itsaso Arana e Vito Sanz.

https://www.imdb.com/name/nm0343903/?ref_=tt_ov_dr



domingo, 18 de abril de 2021

Paula Hernández - uma diretora argentina para prestar atenção

 Paula Hernaández nasceu em 69 e estudou na Escola de Cinema de Buenos Aires. Seu primeiro longa "Herencia" - 2001 fez bastante sucesso e ganhou vários prêmios. Tem Rita Cortese no papel de uma italiana dona de cantina em Buenos Aires. Neste filme já podemos notar a habilidade de Paula Hernández em escrever um roteiro que prioriza as relações humanas. 

Mas é em "Lluvia" de 2008 que Paula se supera num filme com muitas influências de Claire Denis (Vendredi Soir - 2002). Aqui Paula disseca os sentimentos de um casal que se conhece no trânsito em Buenos Aires e ainda mostra um total domínio do urbano inserido no contexto do filme. Novamente Paula escreve o roteiro e consegue extrair o que há de mais íntimo na relação de duas pessoas. A chuva que cai na cidade é parte importante da linguagem e permeia toda a história parando no final quando as coisas começam a mudar.

Em 2011 Paula filma "Um Amor". Aqui temos 3 pessoas que cultivam uma amizade/paixão quando adolescentes. Estes sentimentos começam a aflorar e se confundir quando resolvem se reencontrar muitos anos depois. Aqui Paula domina com maestria o recorte temporal entre a vida no passado e no futuro.

Em 2019 Paula Hernández filma "Los Sonámbulos" com uma influência muito grande do cinema de Lucrécia Martel (O Pântano - 2001). Este filme foi indicado pela argentina ao Oscar  de filme estrangeiro em 2021. Uma cinematografia claustrofóbica e uma família passando uns dias no campo. Muitos takes em primeira pessoa e iluminação difusa para aumentar a tensão familiar. Paula aqui está no auge com este roteiro que mostra as relações humanas de um modo muito denso.

"Las Siamesas" surge em 2020 com Rita Cortese no papel de mãe neste filme que considero a mais nova pérola do cinema argentino. O filme retrata a relação mãe e filha e é filmado magistralmente em  locações sempre fechadas (ônibus, rodoviária e interior de casas). A fotografia explode em claustrofobia e chega a perturbar e nos colocar dentro do drama. Iluminação magistral e interpretações muito densas fazem aqui com que  Paula Hernández atinja a maioridade no cinema.

Pouco conhecida no Brasil certamente essa diretora argentina entra na lista das maiores diretoras de seu país. Prestemos atenção no talento de Paula Hernández.


Para maiores informações sobre os filmes de Paula Hernández leiam meu letterboxd.